A Liberty Media anunciou esta segunda-feira a aquisição do MotoGP, que assim se junta à Fórmula 1 no seu porfólio. Ainda não são conhecidos muitos detalhes do negócio, nem das intenções do grupo americano para a categoria rainha das duas rodas. No entanto, a partir do exemplo da F1, é possível tirar-se algumas ideias do que pode estar para vir.
Liderança
Quando a Liberty Media tomou conta da F1 em 2017, uma das medidas imediatas foi a saída de Bernie Ecclestone do cargo de diretor-executivo do campeonato. Foi substituído por Chase Carey, colocado pela Liberty Media, tendo permanecido nas funções até ser substituído por Stefano Domenicali no início de 2021.
No entanto, o comunicado em que é anunciada a compra do MotoGP deixa bem claro: a Dorna Sports mantém a sua independência e Carmelo Ezpeleta fica, acompanhado da sua equipa, no cargo de diretor-executivo que ocupa desde 1994 com amplo sucesso.
Audiências
Nos últimos anos, e em particular depois da saída de Valentino Rossi, o MotoGP perdeu alguns adeptos. É um processo normal, com o sobe-e-desce de audiência ao longo das eras.
Se há coisa que a Liberty Media mostrou com a F1 é que é possível recuperar público e fazê-lo de forma rápida. O produto desportivo da classe máxima do automobilismo está longe de ser o melhor.
Nos sete anos de gestão americana, começou por haver um domínio claro da Mercedes de Lewis Hamilton, e agora vive-se um período de intenso monopólio da Red Bull e de Max Verstappen. Os monolugares estão longe de serem favoráveis a lutas diretas e ultrapassagens frequentes, com grandes dimensões e efeito aerodinâmico prejudicial.
O crescimento da aerodinâmica no MotoGP também estão a criar alguns problemas na qualidade do espetáculo das corridas, mas já há ideias para reduzir a aerodinâmica no futuro.
E o espetáculo em pista do MotoGP é, mesmo assim, mais empolgante do que tem sido na F1 ultimamente: há muitos vencedores e pilotos a ir ao pódio diferentes a cada temporada, de equipas oficiais e independentes, e não de um grupo restrito como acontece na F1.
A base que a Liberty Media encontra no MotoGP para fomentar o interesse do público é, do ponto de vista desportivo, mais forte do que aquela que ainda tem na F1. É, por isso, de esperar que com o que há em torno das corridas em si, se venha a replicar o aumento de adeptos e seguidores.
Americanização e espetáculo
O «boom» de audiências da F1 com a Liberty Media deveu-se em muito à implementação de uma cultura americana, misturando-a com o potencial do campeonato. Para além do desporto, puxou-se muito pelo lado do espetáculo e pela dramatização dos bastidores com a série «Drive to Survive» na Netflix.
Ganhou-se público nos Estados Unidos da América – onde atualmente a F1 tem três rondas – e também de outras faixas etárias e contextos que não estavam necessariamente interessados na modalidade antes. Foi uma fórmula de sucesso que a Liberty Media poderá muito bem aplicar no MotoGP.
De facto, a categoria rainha do motociclismo já estava a dar passos nesse sentido com a chegada da equipa Trackhouse Racing ou com a nomeação de Dan Rossomundo diretor comercial em abril do ano passado. E nos últimos meses algumas figuras do paddock já falaram da necessidade de ter um segundo GP nos EUA.
Não é só a americanização nem a presença naquele país que há que ter em conta, mas também fomentar o espetáculo e a proximidade com o público. O MotoGP já tem seguido os passos da F1 na aproximação dos pilotos aos adeptos graças ao programa introduzido no ano passado que vai mais além da corrida Sprint – os domingos passaram a incluir logo de manhã o desfile para os adeptos dos pilotos ao longo da pista.
Novos construtores
Atualmente, o pelotão do MotoGP tem 11 equipas, havendo duas vagas que a Dorna faz questão de reservar a equipas de fábrica. Mas poderá a Liberty Media ter alguma influência no interesse de novos construtores em entrarem no campeonato?
Atentemos no caso da F1. Os novos regulamentos de unidades motrizes criados para 2026 já levaram ao histórico regresso da Audi com equipa de fábrica e aos aos regresso da Ford (em associação com a Red Bull) e da Honda como fabricantes de unidades motrizes.
Há também o forte interesse da Cadillac, num projeto conjunto com a Andretti, mas que continua a encontrar muita resistência por parte da F1 e das atuais equipas para se concretizar.
De qualquer modo, é visível que o trabalho desenvolvido pela Liberty Media está a gerar interesse. Há seis fabricantes de unidades motrizes inscritos para 2026, com o potencial de sete caso a Cadillac venha a concretizar os seus planos no futuro a mais longo prazo. Quando a Liberty Media chegou eram quatro.
No MotoGP, já se trabalha em regulamentos muito diferentes para 2027, que afetarão a carenagem, quadro e motor – com uma potencial redução da cilindrada. Tal como na F1, os combustíveis sustentáveis também já estão a ser implementados.
Atualmente, a BMW está em contacto com a Dorna para um eventual projeto. E na Pierer Mobility não se descarta levar a MV Agusta ao MotoGP num projeto separado do da KTM. Poderá a Liberty Media conseguir atrair ainda mais interesse – desde logo de construtores americanos? O futuro o dirá, mas um trabalho como o realizado na F1 poderá permiti-lo.